quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Onde está o "Control+Z" ?




Sou cristão, creio muito no evangelho de Cristo, na Bíblia como nossa fonte única regra de fé e de prática, mas confesso que me desacostumei com este sentimento de perda total que sinto agora. Como já disse Bilbo Baggins: Estou me sentindo“fino, como se estivesse esticado ... como manteiga que foi espalhada num pedaço muito grande.” O fato é simples, fiz mal a quem quero bem e não tenho como voltar no tempo.

Sou hábil em arrumar desculpas para mim mesmo. A palavra desculpa tem mais de um significado, usarei dois deles e preciso me tornar claro. O primeiro faz de "desculpa" a habilidade de arrumar motivos, pretextos, subterfúgios que atenuem a minha culpa em uma ou outra situação. Dela é que falo agora. São várias, quando deixo de fazer algo que todos esperavam que eu fizesse uso as mais filosóficas, como por exemplo, "agimos de diferentes formas", "temos diferentes visões de mundo", "somos frutos da nossa cultura", e o pior é que às vezes sou tão bem sucedido comigo mesmo que perco a noção da ética cristã e engulo as minhas desculpas. Só pra gente não ficar pensando em que tipo de pecados este pastor pratica, me refiro aos maravilhosos bolinhos de camarão com Catupiry - doravante chamados B.C.C. - que evocam um desesperado desejo de comê-los em imensas quantidades. Minha televisão me ensinou a comer bem, o que eu gosto, logo, quando vejo o B.C.C. ... me dou desculpas. Assim como as desculpas filosóficas, há as altruístas. Uso-as de forma terrível quando permito que alguma tarefa da minha agenda não seja realizada dentro do planejado. Por exemplo, ao tirar um tempo para escrever no Blog, deixo de fazer alguma coisa, na verdade, muitas, me dou a desculpa de que talvez este texto possa falar ao coração de alguém. Este é o tipo de desculpa altruísta que mais me deixa confuso. Como saber quando sou realmente altruísta se sinto tanto prazer quando ajudo a alguém? Por aí vai... O que proponho, perdoem-me pela obviedade, é que se torna impossível existir uma noção equilibrada da realidade sem um coeso sistema de referências. Isto quer dizer que se a minha referência for o meu próprio nariz sempre estarei sem rumo porque onde quer que eu olhe, lá estará o meu nariz apontando. Estarei perdido porque tudo me será rumo. De maneira muito simples, uma bússula sem um pólo magnético é inoperante porque a bússula em si é um dos elementos do sistema de referências, o outro é o polo.

G.K. Chesterton diz que o único indivíduo capaz de estar plenamente convencido da percepção da verdade do mundo que o cerca é o louco. Sua verdade se torna tão absolutamente inquestionável porque ele está absolutamente convencido dela. O louco enxerga o mundo sozinho e não compara com nada que seja externo a si. Vive feliz ou triste, mas indubitavelmente correto. Neste sentido, ser normal é ter dúvidas, principalmente duvidando de si mesmo. Se as minhas desculpas passam a me convencer de forma inquestionável, posso estar com dois sérios problemas: Ou estou louco, na pior das hipóteses, ou estou alterando o meu sistema de referências para viver somente segundo a minha própria consciência, o que me leva de novo ao problema do nariz.  Convenhamos, se estamos cada vez mais autônomos, não se dê a desculpa de que está enlouquecendo, pode ser que estejamos nos tornando simples hipócritas.

Para não cansar demais a vocês, a Bíblia, pela ação do Espírito Santo é esse segundo elemento do nosso sistema de valores, comparações, referências. É externa a nós, é imutável - neste sentido melhor que o pólo magnético que se move - é escrita pelo Deus que assegura toda a existência, portanto, sabe muito bem como cuidar dela provendo os meios para que subsista. Estar diante da Escritura, portanto, é diferente de estar simplesmente meditando nos valores da vida, é estar lapidando as suas próprias percepções com as percepções de Deus ao seu respeito e ao mundo que nos cerca. Como fazer isso, é assunto para conversar pessoalmente com o seu pastor. Mas posso dizer que ler a Bíblia de maneira devocional é um grande começo, se é que há outro. Deixar-se convencer das verdades mais simples às mais complexas. Entender basicamente que somos pecadores que dependem de orientação divina para melhor viver esta vida.

Tudo isso pra dizer que eu errei feio ao me omitir diante de uma situação onde não havia espaço para erro. Minha culpa foi ter me omitido diante de amigos, não tão chegados, mas totalmente dignos do meu amor e filhos queridos do mesmo Deus que busco amar. Não errei por maldade, pensei, mas que diferença faz pra quem ficou ofendido? Errei porque fiquei estático diante dos meus problemas pessoais. Graças a Deus a nossa referência externa trata isso com muita clareza: Tiago 4:17  "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado". Pequei contra meus amigos, gostaria até de me dar desculpas dizendo que foi contra a minha vontade, mas não estou fazendo curso de hipócrita e sim de cristão.

Disse que falaria também de outro significado da palavra desculpa e não me esqueci. Já que não consigo achar na minha vida a combinação de teclas que desfazem os erros, o tão famoso UNDO ou Ctrl+Z, só me resta me valer da palavra "desculpa" em seu sentido mais nobre, que é "perdão". Sei que não há volta, sei que há culpa, sei que as coisas não mudarão mais.

Se seguir neste momento a minha própria referência, somente o meu coração,  ficarei absolutamente convicto de que não mereço suas desculpas, e para não me tornar hipócrita, esperarei a insanidade me contaminar. Contudo, da mesma forma que a Bíblia me acusa, me traz a tão preciosa esperança de que o nosso vínculo em Cristo será maior que a minha transgressão, que o nosso amado Jesus, por ter nos perdoado terá total interesse em fechar essa ferida em vocês para que a minha também seque, que estaremos em breve esperando esta noite passar, com as lágrimas enxutas pelo Pai, para honrar o nome dele entre os homens, até que ele venha nos redimir.

À vocês.



terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sem rabugice


Sei que estou um tempo sem escrever. Peço perdão àqueles que me têm cobrado e agradeço muitíssimo o carinho. Contudo, hoje só quero compartilhar uma música do Stênio Marcius que falou demais ao meu coração nessa manhã de terça-feira.







Calendário

Quando o dia da graça chegar
Ouça o barulho das pedras rolando
Pois as muralhas da alma em queda livre ruirão

Quando a vontade do Rei se mover
Olhe o vermelho brotando das rochas
Onde era pedra um coração de carne nascerá

Quando num calendário antigo
Chegar o dia e estiver marcado ali
Há muito tempo, escrito ali, teu nome
Então, essa rainha altiva
Tua vontade, comovida de joelhos,
Ouvirá a voz de seu real Senhor

Quando o tempo das flores chegar
A primavera batendo em teu peito
Veja o deserto brotando
Em verde, em vida, em fruto, em flor

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Queridos amigos, às vezes a única coisa que consola o coração de um pastor novato é a certeza de que, no tempo certo, Deus derrubará todas as muralhas da vontade humana para que o Seu nome seja adorado.

Pai, obrigado por me lembrar que o maior interessado nesta obra não sou eu, mas o Senhor.
Soli Deo Gloria