quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Bisturi e a Lixa




Gosto de construir coisas. Gosto de vê-las funcionando, mas confesso que não tenho muita paciência para as etapas da construção. Isso quer dizer que a ansiedade de vê-las perfeitas, me impede de deixá-las perfeitas. A vontade de construir logo e ver pronto, me impedem de dar todo o acabamento necessário. Isso é uma verdadeira contradição. Não há ninguém me oprimindo, os prazos são os meus, não há obrigatoriedade de terminar, não tenho a quem culpar, não há justificativas, só posso encontrar a mim mesmo e minhas fraquezas, a ansiedade. O trabalho não fica como eu espero porque eu mesmo o boicoto.

Até alguns anos atrás isso não me incomodava, na verdade, sou tão assim que não sei ser de outra forma. Mas hoje, pensando em coisas maiores que móveis e casa, pensando em dramas vividos por amigos meus, pensando em cada irmão que espera ouvir um conselho da parte de Deus através da minha vida e pensando na minha própria vida, sei que é necessário mudar.

Lendo uma matéria sobre missionários médicos na África pensei em meu próprio ministério. O primeiro pensamento que me sobreveio foi: “Os missionários da África, médicos, curam as pessoas e elas saem de lá sorrindo”. Foi um sorriso de uma africana de uma revista antiga que me fez perceber a mim mesmo. Imaginei que se eu fosse médico na África, o meu ministério seria mais profícuo (adoro essa palavra). Na verdade, diante de tantos problemas que são insolúveis para mim, sinto-me por vezes esgotado emocionalmente por não poder ajudar mais, por não ver gente saindo do meu gabinete sorrindo como aquela mulher. Ela tinha um grande tumor no maxilar inferior e depois do trabalho missionário ficou linda e sorridente.

Como seria mais fácil ser médico, e restaurar sorrisos, como seria mais fácil ser um marceneiro genial e construir de uma vez esse armário! Percebo-me, nas orações e meditações bíblicas, tentando comprar um bisturi que possa extrair a tristeza do coração de alguns, se possível sob o efeito de anestesia, para que quando acordem estejam lindos e sorridentes. Quem sabe ouvir a expressão: "Jesus é maravilhoso, me curou e eu nem senti nada". Mas o meu trabalho é outro, preciso aprender a dar acabamento, preciso aprender a lixar, da mais grossa à mais fina, preciso melhorar.

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Este texto foi escrito há um ano, relido, um pouquinho modificado. É bom perceber que neste curto período, aprendi um pouco mais. Já não sou “tão assim” quanto era. Estou menos ansioso, mais atento ao processo do que ao resultado. Até consigo perceber que só Deus é capaz de usar um bisturi; o usa o tempo todo. Hoje a certeza do “sorriso da africana” em todos nós é tão maior... Passei até a apreciar o barulho da lixa, os calos nas mãos, o tempo necessário para finalização. Como é bom perceber nesta releitura que era eu quem mais precisava de uma intervenção cirúrgica.

Com um bisturi tirou o meu tumor e com uma lixa tem me ensinado a sorrir. Que coisa boa! Muito obrigado Senhor.