Escrito para introduzir o sermão do domingo 11 de abril de 2010, após as chuvas que derreteram Niterói.
Diante dos horrores dos últimos dias, diante da perplexidade, diante da catástrofe, nos encontramos aqui, pela graça de Deus, em mais um domingo. A chuva destruiu a casa e o sonho de segurança; enchentes inundaram com lixo e lama o conforto; o cascalho e a pedra enterraram a esperança na irreversibilidade da história. A trágédia, antes tão distante, tão de São Paulo, tão de Santa Catarina, tão do Haiti, chegou às nossas portas, às enxurradas.
Chamei esta mensagem de Nossa Pequena Tragédia porque ela não nos afetou totalmente. Não como àqueles que moravam no Morro do Bumba, Beltrão, ou Paciência. Chamo-a de Pequena em respeito àqueles que já morreram e aos outros que pensam ter morrido - tamanho sofrimento - diante da perda de pais, mães, filhos, amigos e patrimônio.
Preciso chamar de Pequena a minha ineficaz empatia porque, mesmo angustiado, não me vi perdido em meio às lágrimas. Preciso chamá-la Pequena para que o meu ego não se sinta orgulhosamente co-sofredor. É pequena, sim, a nossa tragédia pelo simples fato de ainda estarmos aqui, contando a história.
Quem sabe nossa tragédia fluminense tenha a capacidade de contrapor "o que é" com "o que parece ser" o cristianismo vivido por cada um de nós? Quem sabe tenhamos a coragem de encarar em primeira pessoa, as nossas tantas irresponsabilidades sócio-políticas? Quem sabe, a partir de hoje, possamos olhar mais diretamente para o exemplo de Jesus, em meio ao povo, guiando-o para o Pai no caminho da Graça, do arrependimento e esperança na redenção? Que este Senhor, completamente envolvido com a sua criação, nos ajude.
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