
O assunto me causa desconforto porque ora o admiro, ora me traz desconfiança. Ele se apresenta sob diferentes bandeiras: "Temos que fazer alguma coisa pela igreja brasileira e precisamos começar". Ou ainda, "a teologia da prosperidade está banalizando o evangelho da graça e precisamos pregar contra isso". Mais uma? "Somos responsáveis pela próxima geração e não estamos fazendo nada". Só mais uma - essa me irrita: "As igrejas não estão interessadas em pregar o evangelho do Reino, estamos sós". Quem me conhece sabe que eu já caí na minha armadilha. Prego um monte destas coisas. Escrevi sobre isso no post anterior a este. Creio, em parte, nestas afirmações. Fico indignado como tantos outros irmãos em suas fundamentadas denúncias. Contudo, observo que há alguma coisa errada, ou na minha percepção ou no discurso. Peço que você me ensine. Meu raciocício é simples. Como é possível que irmãos que têm tamanha capacidade de analisar a igreja brasileira permitam que as suas próprias igrejas caiam nos mesmos erros denunciados? E se não caem, porque sabem o que fazer, não é a Igreja brasileira que erra de maneira geral, mas algumas igrejas no Brasil. Isso, pra mim muda tudo.
Desbafando, mesmo, com toda a sinceridade, o meu grande medo é que nós que amamos a verdade reformada, patrística e bíblica, estejamos tornando o nosso discurso tão puro, tão grandioso, tão perfeito que venha a se tornar infantil, megalômano e desumano. E que por causa dele sejamos condenados à frustração. Parece-me, quando leio alguns Blogs, que estamos ficando obcecados pelo tema "reforma" sem notar que a Reforma aconteceu num processo de erros e acertos, ao longo de séculos. Temo que pelo ideal que o discurso evoca e falando tanto sobre ele, corramos o risco de desvalorizar o simples; o pedaço de madeira da madeira nas mão do menino que vai sendo lentamente trabalhado até chegar ao seu fim.
Se estou pensando errado me corrijam, porém se pareço acomodado porque não estou em pânico com a situação da igreja, não me entendam mal. Eu creio como aprendi: "A Igreja tem dono!" - prof. Leclerc. Neste sentido, minha lógica é simples: Se o Senhor, Soberano, ama a sua Igreja, se nós temos os seus mandamentos e os guardamos, se ao menos os sete mil que não dobraram o seu joelho ao deus deste século entregam diária e sinceramente a sua vida por Jesus, a igreja é o que é e não o que deveria ser. É expressão do Reino, santa e imaculada em Cristo, mas ainda não foi glorificada, o já e o ainda não. Portanto, sempre teremos coisas a reparar, além, é claro, do joio no meio do trigo e dos lobos em peles de ovelhas, mas este assunto não se destina a eles.
Se você for atento e compassivo, poderá acreditar que também abomino o discurso do comodismo, porém desprezo ainda mais o discurso do discurso. Este nos dá a tola sensação de que a simples retórica é a ação, quando a retórica precisa gerar uma ação para que não caiamos no problema enfatizado por Tiago representado pelo binômio fé-obras.
Talvez eu pense pequeno, mas entendo que mesmo sem grandes triunfos, visíveis e externos, nós que somos parte da igreja brasileira, que amamos as Boas Novas, deveríamos lembrar com mais frequência que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo e que podemos continuar confiando nele. Como ação prática, real e possível, precisamos continuar esculpindo nossos pequenos pedaços de madeira - nossas vidas - com grande empenho e dependência. Com a diversidade de dons e ministérios é que o Senhor nos permite entalhar, lixar, montar e machucar as mãos e isto já está ao nosso alcance, não é um devir.
Que estas tantas palavras que escrevemos sejam frutos de mãos feridas pelo trabalho e não de ociosos críticos em busca de uma ridícula e momentânea fama. Que ensinem a Verdade, como professores de verdade, gente que ensina com a vida, gente que aprende em lágrimas. Graças a Deus porque há muita gente trabalhando duro. Graças a Deus porque são muitos os testemunhos de pessoas que têm se rendido ao Senhor Jesus pela pregação do seu evangelho e isso vem acontecendo ao longo dos séculos, sem exceção. Graças a Deus também porque a igreja é do Senhor Jesus para sempre e que não estamos mais interessados nela do que ele próprio.
Um pouco ansioso, me pergunto se um discurso positivo, que apresenta soluções modestas, mais possíveis do que "precisamos repensar a igreja", conseguiria preencher páginas e páginas de tantos e variados blogs. Meu medo é de que a nossa capacidade de criticar a igreja brasileira nasça em um berço menos nobre do que o do amor ao evangelho, mas de uma incapacidade de assumir as consequências que ele traz: Não cessaremos de sofrer, não ficaremos todos ricos, não seremos curados de todas as enfermidades, não seremos os donos do mundo etc. Realidades muito diferentes das que os milagreiros e ricos do evangelho da prosperidade anunciam em suas igrejas lotadas. Xi, tô criticando de novo, ô mania.
Mas este é só mais um Blog. É só pra pensar em público. Por enquanto, como diz o João Alexandre:
Quero cantar o que vivo
Quero viver o que canto
Seja o meu riso, o meu pranto
Viver e cantar.
Deus nos abençoe.