quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Panis et circenses

 
"Bebida é água, comida é pasto. Você precisa de quê? Você tem fome de quê?"Os Titãs entenderam a necessidade daquilo que podemos chamar de qualidade de vida. "A gente quer comida, diversão e arte"... No entanto, antes deles um grupo que poucos se lembram, os Mutantes, mesmo nos tempos da ditadura, já denunciavam a perversa política do pão e circo. Era como se o governo dissesse: Se há comida, se há bebida, se há diversão, pra que se preocupar com o resto? Ultrapassando os Titãs na preocupação com a humanidade nossos irmãos brasileiros dos idos de 60, denunciavam em prosa e verso a malícia do governo militar em conduzir o povo como gado. O povo tinha comida ruim e diversão ruim, e ainda era proibido pensar. Quem pensou, foi calado, preso, morto, sumiu, ou foi esperto ao ponto de compor e lutar de maneira ofensiva e inteligente. Como estamos usando a música para expressar a consciência daquela geração e "pra não dizer que não falei das flores", cito alguns dos arautos, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano, Belchior e até Roberto Carlos.

Seria ótimo que este texto pudesse ressaltar os legados que os bravos deixaram para a próxima geração, mas não foi isso o que aconteceu. Nasceu a Geração Coca-Cola, feliz e sem identidade. Gerou em seu seio "ícones amorfos" como o grande cantor e deprimido Renato Russo e o não menor famigerado Cazuza, com suas vagas ideologias. Não quero ser injusto, sou dessa geração, mas olha como está o mundo que nós estamos fazendo? Lembro de como cantava: "Vamos fazer nosso dever de casa e aí então vocês vão ver suas crianças derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis". Quem dera Renato Russo fosse um profeta... Pensávamos que lutaríamos contra o sistema, mas depois vimos que o sistema era confortável, tinha pão e circo. Instalamo-nos covardemente aos pés daqueles que nos sequestravam a humanidade numa espécie hedionda de Síndrome de Stocolmo.

É triste pensar que a geração 80 buscou com tanta avidez o pão e circo, ao contrário de seus pais. Paradoxalmente, burgueses e favelados, policiais e marginais, religiosos e ateus, sem distinção, desejaram no mesmo rebanho o glamour das novelas das Globo em suas próprias vidas, fizeram de Holywood suas próprias religiões; fúteis como comédias românticas, violentas como tantos "Silvesters Schwarzeneggers", idiotas e maniqueístas como Steven Seagal. O prazer e o conforto dos anos oitenta não forneceu anticorpos para mediocridade e estupidez reinantes nos dias atuais, pelo contrário, nos envenou. O povo brasileiro do fim do século XX tornou-se incapaz de criticar o vazio de suas políticas sociais e entregues a uma espécie de epicurismo sem cultura inauguramos dentro de nós a já conhecida pós-modernidade. Como gostaria de terminar este parágrafo dizendo que a igreja agiu diferente... Fiquei amargo.

Depois continuo.

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