sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Panis et circenses II




Até quando você vai levando (pregada! pregada!)?
Até quando vai ficar sem fazer nada?

Ah Gabriel, fico com inveja. Primeiro porque você não precisa de Blog para pensar em público e segundo porque não precisa trocar a palavra "porrada" por "pregada". A quem me lê, estou pensando em público e talvez o cheiro não seja bom mesmo. Lembro que é só parar de ler por aqui.

Gostaria de dizer que nós, evangélicos, não somos arautos, não conhecemos a verdade, não sabemos quem somos e nem para onde vamos... gostaria, mas não posso. Seria uma verdadeira incoerência com o nosso próprio sistema de crenças, pois somos tudo isso. Conhecemos o Jesus encarnado, o logos que se fez carne, isso nos dá identidade e nos remete à eternidade com o Deus criador de todas as coisas. Mas é, por tantas vezes, o Gabriel, que ainda nem entende que o sofrimento de Jesus é vitória para os cristãos, quem grita contra o pão e circo e não nós. Sim, é verdade que eu só estou mostrando um lado da moeda, estou exagerando propositalmente, generalizando e cometendo injustiças escancaradamente. Poderia falar de pelo menos dois homens que admiro pela coragem, um eu conheço mais e outro menos, respectivamente, Aramis Brito e Ariovaldo Ramos. Os caras são mais brabos que o Gabriel porque além de cantarem as canções que Jesus cantava e ninguém quer ouvir, estão nas ruas. No entanto, estou rabugento e  não estou falando bem de ninguém. Portanto, peço permissão, só por hoje e mais uns dias (?), para continuar a minha lamúria utilizando a música, ora literalmente, ora como uma metáfora para igreja visível. Contudo, preciso ressaltar com admiração que eles são apenas alguns dos "caras", e têm seus próprios blogs - certamente mais relevantes que este.

Eu não tenho a intenção de corrigir o mundo, mas tocar na vida de quem, assim como eu, quer pensar publicamente. Quem sabe nos corrigimos mutuamente? Outro dia ouvi um absurdo que bem demonstra a crise em que me encontro. Ao sentar na costumeira cadeira do "Salão Nova Era", onde não "faço a cabeça", mas corto o cabelo desde o tempo em que essa expressão causava medo aos crentes, um cliente cristão evangélico discutindo com um pseudo-marxista bradou: "Eu não sou protestante, sou evangélico". O marxista sorriu e eu tossi. O irmão, além de não conhecer a sua própria história, simplesmente não deve ter ouvido a música do Gabriel em sua versão sacra escrita por Martinho Lutero em 1517, escrita em 95 teses. Lutero entendeu que a Igreja esquecera o seu papel fundamental, conduzir a Cristo. Se a atitude daquele irmão, cliente do Nova Era, foi passional e ignorante por vários motivos, a minha foi tossir. Não fiz nada, o pior, não sei até agora se deveria fazer algo. Se soubesse, teria acertado ou errado, mas reagi com tosse e isso é  coisa de cachorro, gato, mas não de gente. Talvez, a culpa não seja dele, do irmão, afinal a política de pão e circo na igreja o tem ensinado a só escutar música evangélica. Mas eu estou criticando a música da igreja, Pão e Circo e quando eu preciso me posicionar por tantas vezes... Cof..Cof...

A música evangélica dos anos 70 era ótima. Escuto-a até hoje com saudades das minhas primeiras experiências com Deus e a sua Igreja. A dos 80 começou bem, mas depois do advento das rádios evangélicas, começou a se moldar às demandas do mercado. Ué, não deveriam ser as demandas do Espírito  Santo? Claro que não, afinal queriam dinheiro em suas melodias de prosperidade. De onde percebo, o ícone do humilde cantor que cantava a cruz e sua banda com instrumentos nacionais, foi substituído, de uma só vez,  por um "cabra" com calça de couro, carrão e gritando à multidão palavras ególatras. Lembrem-se que estou generalizando. Houve também uma minoria de bons movimentos evangélicos. Contudo, acho que muitos destes estavam tão preocupados em edificar a sua própria fé, num gesto caricato da clausura monástica, que se esqueceram do lema beneditino "ore et labore" - Ore e trabalhe. Qualquer canção cristã deve ser vivida com o próximo.

Agora, falando mesmo de música na igreja - sem metáforas - e pulando os anos 90, que foi quando decidi não escutar mais rádios evangélilcas, assisto impressionado à nossa década atual. Meu Deus, eu era um músico "meia-bomba", tocava de ouvido, mas dava para até para tocar na igreja. Hoje, no entanto, a sofisticação e a técnica me fazem questionar até mesmo se já fui músico um dia. Minha expressão em relação a este último detalhe é: Glória a Deus, de quem procede a música. Sinceramente, acho ótimo que estejamos protestando contra a mediocridade musical tocando melhor. Contudo e ao mesmo tempo, temo que esse "pop-pseudo-rock-argh!-gospel-australiano ou não-de letras chinfrins", esteja propondo mais forma do que conteúdo. Melodias maravilhosas, harmonias sensacionais, solistas fantásticos, mas permeadas de letras pobres e verdades pasteurizadas - quando são verdades. Um pastel sem recheio - estou ficando com fome. Promessas que nunca se cumprirão, ventos que nunca chegarão, paixões sem sentido, enchem de sonhos o ego pecaminoso que quer sempre mais. Um estranho evangelho lindamente cantado, sem cruz, sem o próximo, sem vida eterna.

Resolvi começar a protestar pela música, mas este não é todo o meu protesto. Nem consigo organizar em pequenos textos o meu protesto. Quem sabe em um ano de pequenos textos? Sou contra esta política de pão e circo importada dos romanos, exercida pelos governos, vergonhosamente vendida nas igrejas. Resolvi protestar, ainda que covardemente, num Blog. Quem sabe um dia, tomo coragem para pegar um azorrague e desestabilizar o sistema de comércio do templo sob a bandeira: "Jesus, macho pra caramba".
 
 É estranho perceber o paralelo entre Romanos 12 e a música do Gabriel. Ou melhor, é estranho achar estranho, porque me dá a impressão que Deus só é Deus de crentes. O Senhor de toda terra está falando através do Pensador, ainda que em partes. Leia e conclua.

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente"..."
Rom 12.2

"Muda que quando você muda o mundo muda com a gente,
A gente muda o mundo com a mudança da mente". Gabriel Pensador.

O que o Pensador não pensou, porque ainda é homem natural é que renovamos a nossa mente para experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

Vai tossir ou vai fazer alguma coisa?

3 comentários:

  1. Ainda não tinha pensado nessa coisa do "pop-pseudo-rock-argh!-gospel-australiano ou não-de letras chinfrins". Como músico (meia-bomba), acho que dosar conteúdo e música é um dilema do caramba, embora pense que o conteúdo é o mais importante. Tbm não ouço rádio envangélica, sequer música evangélica, pelo menos não o que a maioria ouve. Acho que tem coisas boas por aí, mas tem que procurar um bocado pra encontrar.
    Mas realmente revolta a atual fase de músicas que afirmam em sua maioria que você vai vencer sempre e que o Mal nunca vai conseguir te tocar.
    Assim como a próprioa teologia por trás delas.
    Assim como caras que dizem: "Não sou protestante, sou evangélico".
    A droga é que esse momento tudo-de-bom tende a contagiar, afinal, tudo está bem, certo?
    Acho que, obviamente, o que tem mudar é a ideologia. Mesmo a nossa, que não deveria ter mudado nunca.
    Aí as coisas se acertam.

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  2. A música é normalmente um reflexo daquilo que nós somos né, e infelizmente ao olharmos a música evangélica, fico mesmo meio preocupado.
    Mas preciso confessar que o que mais me impactou nessa história toda, foi a sua simples tosse.
    Estou cansado das besteiras que se canta, prega, e profere por aí de qualquer jeito sim, mas começo também a me cansar dos críticos que estão cheios de opinião, têm discursos inflamados contra a realidade, mas quando confrontados, só o que fazem é tossir.
    Os 2 lados da moeda estão igualmente errados, um por ação, outro por omissão... necessariamente me encaixo em algum desses lados...

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  3. Reverendo...sou o Márcio (clamor), amigo do Guilherme, bem vindo ao mundo dos blogueiros! Se precisar de mim http://marciodesouza.blogspot.com
    Abração!

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