segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ô Mania...

Desde que comecei neste negócio de Blog, há uma semana, comecei a me interessar por ler gente de todo o tipo. Gente que não é brilhante e nem liga muito para isso, gente que é brilhante e não se dá conta disso. Gente que é famosa e merece, e impressionantemente, gente que acha que é famosa pelo que pensa, mas não se dá conta do próprio ridículo. Resta saber em qual dessas "gentes" eu vou me enquadrar... Não me responda por enquanto, ainda não estou pronto para saber. Neste post quero falar só do conteúdo bom, mas como sou um chato de galochas, critico a parte que julgo ruim e vocês verão como cairei na minha própria armadilha em minutos. Mesmo pouco experiente em blogs, estou começando a ficar cansado de um discurso que está totalmente na moda. "Temos que fazer alguma coisa". Mas é em tudo, violência, política, culinária e como não poderia ser diferente a igreja evangélica brasileira. Sobre este eu queria pensar um pouco.

O assunto me causa desconforto porque ora o admiro, ora me traz desconfiança. Ele se apresenta sob diferentes bandeiras: "Temos que fazer alguma coisa pela igreja brasileira e precisamos começar". Ou ainda, "a teologia da prosperidade está banalizando o evangelho da graça e precisamos pregar contra isso". Mais uma? "Somos responsáveis pela próxima geração e não estamos fazendo nada". Só mais  uma - essa me irrita: "As igrejas não estão interessadas em pregar o evangelho do Reino, estamos sós". Quem me conhece sabe que eu já caí na minha armadilha. Prego um monte destas coisas. Escrevi sobre isso no post anterior a este. Creio, em parte, nestas afirmações. Fico indignado como tantos outros irmãos em suas fundamentadas denúncias. Contudo, observo que há alguma coisa errada, ou na minha percepção ou no discurso. Peço que você me ensine. Meu raciocício é simples. Como é possível que irmãos que têm tamanha capacidade de analisar a igreja brasileira permitam que as suas próprias igrejas caiam nos mesmos erros denunciados? E se não caem, porque sabem o que fazer, não é a Igreja brasileira que erra de maneira geral, mas algumas igrejas no Brasil. Isso, pra mim muda tudo.

Desbafando, mesmo, com toda a sinceridade, o meu grande medo é que nós que amamos a verdade reformada, patrística e bíblica, estejamos tornando o nosso discurso tão puro, tão grandioso, tão perfeito que venha a se tornar infantil, megalômano e desumano. E que por causa dele sejamos condenados à frustração. Parece-me, quando leio alguns Blogs, que estamos ficando obcecados pelo tema "reforma" sem notar que a Reforma aconteceu num processo de erros e acertos, ao longo de séculos. Temo que pelo ideal que o discurso evoca e falando tanto sobre ele, corramos o risco de desvalorizar o simples; o pedaço de madeira da madeira nas mão do menino que vai sendo lentamente trabalhado até chegar ao seu fim.

Se estou pensando errado me corrijam, porém se pareço acomodado porque não estou em pânico com a situação da igreja, não me entendam mal. Eu creio como aprendi: "A Igreja tem dono!" - prof. Leclerc. Neste sentido, minha lógica é simples: Se o Senhor, Soberano, ama a sua Igreja, se nós temos os seus mandamentos e os guardamos, se ao menos os sete mil que não dobraram o seu joelho ao deus deste século entregam diária e sinceramente a sua vida por Jesus, a igreja é o que é e não o que deveria ser. É expressão do Reino, santa e imaculada em Cristo, mas ainda não foi glorificada, o já e o ainda não. Portanto, sempre teremos coisas a reparar, além, é claro, do joio no meio do trigo e dos lobos em peles de ovelhas, mas este assunto não se destina a eles.

Se você for atento e compassivo, poderá acreditar que também abomino o discurso do comodismo, porém desprezo ainda mais o discurso do discurso. Este nos dá a tola sensação de que a simples retórica é a ação, quando a retórica precisa gerar uma ação para que não caiamos no problema enfatizado por Tiago representado pelo binômio fé-obras.

Talvez eu pense pequeno, mas entendo que mesmo sem grandes triunfos, visíveis e externos, nós que somos parte da igreja brasileira, que amamos as Boas Novas, deveríamos lembrar com mais frequência que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo e que podemos continuar confiando nele. Como ação prática, real e possível, precisamos continuar esculpindo nossos pequenos pedaços de madeira - nossas vidas - com grande empenho e dependência. Com a diversidade de dons e ministérios é que o Senhor nos permite entalhar, lixar, montar e machucar as mãos e isto já está ao nosso alcance, não é um devir.

Que estas tantas palavras que escrevemos sejam frutos de mãos feridas pelo trabalho e não de ociosos críticos em busca de uma ridícula e momentânea fama. Que ensinem a Verdade, como professores de verdade, gente que ensina com a vida, gente que aprende em lágrimas. Graças a Deus porque há muita gente trabalhando duro. Graças a Deus porque são muitos os testemunhos de pessoas que têm se rendido ao Senhor Jesus pela pregação do seu evangelho e isso vem acontecendo ao longo dos séculos, sem exceção. Graças a Deus também porque a igreja é do Senhor Jesus para sempre e que não estamos mais interessados nela do que ele próprio.

Um pouco ansioso, me pergunto se um discurso positivo, que apresenta soluções modestas, mais possíveis do que "precisamos repensar a igreja", conseguiria preencher páginas e páginas de tantos e variados blogs. Meu medo é de que a nossa capacidade de criticar a igreja brasileira nasça em um berço menos nobre do que o do amor ao evangelho, mas de uma incapacidade de assumir as consequências que ele traz: Não cessaremos de sofrer, não ficaremos todos ricos, não seremos curados de todas as enfermidades, não seremos os donos do mundo etc. Realidades muito diferentes das que os milagreiros e ricos do evangelho da prosperidade anunciam em suas igrejas lotadas. Xi, tô criticando de novo, ô mania.

Mas este é só mais um Blog. É só pra pensar em público. Por enquanto, como diz o João Alexandre:

Quero cantar o que vivo
Quero viver o que canto
Seja o meu riso, o meu pranto
Viver e cantar.


Deus nos abençoe.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Panis et circenses II




Até quando você vai levando (pregada! pregada!)?
Até quando vai ficar sem fazer nada?

Ah Gabriel, fico com inveja. Primeiro porque você não precisa de Blog para pensar em público e segundo porque não precisa trocar a palavra "porrada" por "pregada". A quem me lê, estou pensando em público e talvez o cheiro não seja bom mesmo. Lembro que é só parar de ler por aqui.

Gostaria de dizer que nós, evangélicos, não somos arautos, não conhecemos a verdade, não sabemos quem somos e nem para onde vamos... gostaria, mas não posso. Seria uma verdadeira incoerência com o nosso próprio sistema de crenças, pois somos tudo isso. Conhecemos o Jesus encarnado, o logos que se fez carne, isso nos dá identidade e nos remete à eternidade com o Deus criador de todas as coisas. Mas é, por tantas vezes, o Gabriel, que ainda nem entende que o sofrimento de Jesus é vitória para os cristãos, quem grita contra o pão e circo e não nós. Sim, é verdade que eu só estou mostrando um lado da moeda, estou exagerando propositalmente, generalizando e cometendo injustiças escancaradamente. Poderia falar de pelo menos dois homens que admiro pela coragem, um eu conheço mais e outro menos, respectivamente, Aramis Brito e Ariovaldo Ramos. Os caras são mais brabos que o Gabriel porque além de cantarem as canções que Jesus cantava e ninguém quer ouvir, estão nas ruas. No entanto, estou rabugento e  não estou falando bem de ninguém. Portanto, peço permissão, só por hoje e mais uns dias (?), para continuar a minha lamúria utilizando a música, ora literalmente, ora como uma metáfora para igreja visível. Contudo, preciso ressaltar com admiração que eles são apenas alguns dos "caras", e têm seus próprios blogs - certamente mais relevantes que este.

Eu não tenho a intenção de corrigir o mundo, mas tocar na vida de quem, assim como eu, quer pensar publicamente. Quem sabe nos corrigimos mutuamente? Outro dia ouvi um absurdo que bem demonstra a crise em que me encontro. Ao sentar na costumeira cadeira do "Salão Nova Era", onde não "faço a cabeça", mas corto o cabelo desde o tempo em que essa expressão causava medo aos crentes, um cliente cristão evangélico discutindo com um pseudo-marxista bradou: "Eu não sou protestante, sou evangélico". O marxista sorriu e eu tossi. O irmão, além de não conhecer a sua própria história, simplesmente não deve ter ouvido a música do Gabriel em sua versão sacra escrita por Martinho Lutero em 1517, escrita em 95 teses. Lutero entendeu que a Igreja esquecera o seu papel fundamental, conduzir a Cristo. Se a atitude daquele irmão, cliente do Nova Era, foi passional e ignorante por vários motivos, a minha foi tossir. Não fiz nada, o pior, não sei até agora se deveria fazer algo. Se soubesse, teria acertado ou errado, mas reagi com tosse e isso é  coisa de cachorro, gato, mas não de gente. Talvez, a culpa não seja dele, do irmão, afinal a política de pão e circo na igreja o tem ensinado a só escutar música evangélica. Mas eu estou criticando a música da igreja, Pão e Circo e quando eu preciso me posicionar por tantas vezes... Cof..Cof...

A música evangélica dos anos 70 era ótima. Escuto-a até hoje com saudades das minhas primeiras experiências com Deus e a sua Igreja. A dos 80 começou bem, mas depois do advento das rádios evangélicas, começou a se moldar às demandas do mercado. Ué, não deveriam ser as demandas do Espírito  Santo? Claro que não, afinal queriam dinheiro em suas melodias de prosperidade. De onde percebo, o ícone do humilde cantor que cantava a cruz e sua banda com instrumentos nacionais, foi substituído, de uma só vez,  por um "cabra" com calça de couro, carrão e gritando à multidão palavras ególatras. Lembrem-se que estou generalizando. Houve também uma minoria de bons movimentos evangélicos. Contudo, acho que muitos destes estavam tão preocupados em edificar a sua própria fé, num gesto caricato da clausura monástica, que se esqueceram do lema beneditino "ore et labore" - Ore e trabalhe. Qualquer canção cristã deve ser vivida com o próximo.

Agora, falando mesmo de música na igreja - sem metáforas - e pulando os anos 90, que foi quando decidi não escutar mais rádios evangélilcas, assisto impressionado à nossa década atual. Meu Deus, eu era um músico "meia-bomba", tocava de ouvido, mas dava para até para tocar na igreja. Hoje, no entanto, a sofisticação e a técnica me fazem questionar até mesmo se já fui músico um dia. Minha expressão em relação a este último detalhe é: Glória a Deus, de quem procede a música. Sinceramente, acho ótimo que estejamos protestando contra a mediocridade musical tocando melhor. Contudo e ao mesmo tempo, temo que esse "pop-pseudo-rock-argh!-gospel-australiano ou não-de letras chinfrins", esteja propondo mais forma do que conteúdo. Melodias maravilhosas, harmonias sensacionais, solistas fantásticos, mas permeadas de letras pobres e verdades pasteurizadas - quando são verdades. Um pastel sem recheio - estou ficando com fome. Promessas que nunca se cumprirão, ventos que nunca chegarão, paixões sem sentido, enchem de sonhos o ego pecaminoso que quer sempre mais. Um estranho evangelho lindamente cantado, sem cruz, sem o próximo, sem vida eterna.

Resolvi começar a protestar pela música, mas este não é todo o meu protesto. Nem consigo organizar em pequenos textos o meu protesto. Quem sabe em um ano de pequenos textos? Sou contra esta política de pão e circo importada dos romanos, exercida pelos governos, vergonhosamente vendida nas igrejas. Resolvi protestar, ainda que covardemente, num Blog. Quem sabe um dia, tomo coragem para pegar um azorrague e desestabilizar o sistema de comércio do templo sob a bandeira: "Jesus, macho pra caramba".
 
 É estranho perceber o paralelo entre Romanos 12 e a música do Gabriel. Ou melhor, é estranho achar estranho, porque me dá a impressão que Deus só é Deus de crentes. O Senhor de toda terra está falando através do Pensador, ainda que em partes. Leia e conclua.

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente"..."
Rom 12.2

"Muda que quando você muda o mundo muda com a gente,
A gente muda o mundo com a mudança da mente". Gabriel Pensador.

O que o Pensador não pensou, porque ainda é homem natural é que renovamos a nossa mente para experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

Vai tossir ou vai fazer alguma coisa?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Panis et circenses

 
"Bebida é água, comida é pasto. Você precisa de quê? Você tem fome de quê?"Os Titãs entenderam a necessidade daquilo que podemos chamar de qualidade de vida. "A gente quer comida, diversão e arte"... No entanto, antes deles um grupo que poucos se lembram, os Mutantes, mesmo nos tempos da ditadura, já denunciavam a perversa política do pão e circo. Era como se o governo dissesse: Se há comida, se há bebida, se há diversão, pra que se preocupar com o resto? Ultrapassando os Titãs na preocupação com a humanidade nossos irmãos brasileiros dos idos de 60, denunciavam em prosa e verso a malícia do governo militar em conduzir o povo como gado. O povo tinha comida ruim e diversão ruim, e ainda era proibido pensar. Quem pensou, foi calado, preso, morto, sumiu, ou foi esperto ao ponto de compor e lutar de maneira ofensiva e inteligente. Como estamos usando a música para expressar a consciência daquela geração e "pra não dizer que não falei das flores", cito alguns dos arautos, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano, Belchior e até Roberto Carlos.

Seria ótimo que este texto pudesse ressaltar os legados que os bravos deixaram para a próxima geração, mas não foi isso o que aconteceu. Nasceu a Geração Coca-Cola, feliz e sem identidade. Gerou em seu seio "ícones amorfos" como o grande cantor e deprimido Renato Russo e o não menor famigerado Cazuza, com suas vagas ideologias. Não quero ser injusto, sou dessa geração, mas olha como está o mundo que nós estamos fazendo? Lembro de como cantava: "Vamos fazer nosso dever de casa e aí então vocês vão ver suas crianças derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis". Quem dera Renato Russo fosse um profeta... Pensávamos que lutaríamos contra o sistema, mas depois vimos que o sistema era confortável, tinha pão e circo. Instalamo-nos covardemente aos pés daqueles que nos sequestravam a humanidade numa espécie hedionda de Síndrome de Stocolmo.

É triste pensar que a geração 80 buscou com tanta avidez o pão e circo, ao contrário de seus pais. Paradoxalmente, burgueses e favelados, policiais e marginais, religiosos e ateus, sem distinção, desejaram no mesmo rebanho o glamour das novelas das Globo em suas próprias vidas, fizeram de Holywood suas próprias religiões; fúteis como comédias românticas, violentas como tantos "Silvesters Schwarzeneggers", idiotas e maniqueístas como Steven Seagal. O prazer e o conforto dos anos oitenta não forneceu anticorpos para mediocridade e estupidez reinantes nos dias atuais, pelo contrário, nos envenou. O povo brasileiro do fim do século XX tornou-se incapaz de criticar o vazio de suas políticas sociais e entregues a uma espécie de epicurismo sem cultura inauguramos dentro de nós a já conhecida pós-modernidade. Como gostaria de terminar este parágrafo dizendo que a igreja agiu diferente... Fiquei amargo.

Depois continuo.

Primeiro Post

Despotēs. É a transcrição da palavra que intitula o Blog. Está em grego. Uma boa tradução dela para a nossa generosa língua portuguesa é "Soberano" e não déspota, como parecia óbvio.

Soberanos e Dépostas têm muitos atributos em comum. Exercem, segundo o Houaiss, "sem restrição nem neutralização, poder ou autoridade suprema". O interessante é descobrir que a palavra grega mencionada é extraída do Novo Testamento para se referir a Deus, o soberano, dépostēs. Seria Deus um déspota? Um tirano que exerce poder absoluto, sem a possibilidade de um poder que o suplante, ou o nosso conceito de soberania já não mais contempla a realidade bíblica e "despótica" de que Deus exerce poder absoluto?

Quero começar este Blog já há algum tempo. Ainda que tenha alguma consciência de que estou na fase de aprendizado. Porém, como em um ensaio, quero começar dizendo aquilo que mais mudou a minha consciência do evangelho de Cristo: Deus é soberano e nada, nem ninguém, pode frustrar os seus bons, perfeitos e agradáveis planos eternos. Nem o homem.

Sendo assim, começo do começo. Tendo em mente uma única intenção, pensar em Deus publicamente, sem tabus e preconceitos, de maneira inteligível para os que compartilham do mesmo pressuposto: Deus existe, é pessoal, encarnou, morreu pelos seus filhos e os redimirá para sua própria Glória. É baseado nesta fé que pretendo pensar com os amigos que desejarem caminhar comigo neste silencioso projeto.

Que o Senhor - Déspotēs - possa, segundo a sua soberania, me abençoar neste projeto abençoando a sua vida.